Cláudio Conti*
Por ubiquidade
entende-se a propriedade de se estar em todos os lugares ao mesmo tempo, cujo
sinônimo seria "onipresença". A onipresença, por sua vez, conduz à
onisciência, isto é, a capacidade de saber ou conhecer tudo. Como entender a
ubiquidade com relação ao espírito?
A
Doutrina Espírita nos esclarece, mais precisamente no livro A Gênese, que a
onipresença é uma das propriedades da divindade, isto é, de Deus. Obviamente
que necessitamos compreender que a nossa visão de Deus é extremamente limitada,
portanto, muitos dos atributos com os quais tentamos compreendê-lo são, também,
limitados. Todavia, é o que conseguimos alcançar com a atual capacidade mental.
Com
relação ao espírito propriamente dito, esta questão é interessante e apresenta
variantes no entendimento, não sendo simples nem trivial.
No
artigo publicado no jornal Correio Espírita em fevereiro de 2016, abordamos a
forma do espírito e as limitações impostas pela matéria, estas mesmas
limitações também restringem o espírito, enquanto ligado ao corpo físico, de se
manifestar simultaneamente em diferentes pontos no espaço e, com isso, estar
ciente dos acontecimentos nestes locais.
Este
tema, quando analisado em profundidade, pode trazer esclarecimentos
interessantes sobre alguns fenômenos espirituais, tal como a bicorporeidade ou
homens duplos.
O modo
mais comum de bicorporeidade ocorre quando o espírito, liberto do corpo, seja
pelo sono natural ou transe mediúnico, em ambos casos o corpo permanece inerte enquanto
que o espírito está livre para se manifestar, através do perispírito, em outro
local, inclusive em estado tangível. Este tipo de fenômeno pode ser explicado
pelas propriedades do perispírito e, neste caso, o espírito age em apenas um
local. Todavia, a manifestação do espírito em local diferente de onde está seu
corpo pode ocorrer em outros níveis de complexidade, no qual o espírito pode
agir em pontos diferentes.
Kardec
aborda a ubiquidade dos espíritos n'O Livro dos Espíritos e requer uma
avaliação detalhada.
Primeiramente, na questão 92, Kardec pergunta: Têm os Espíritos o dom da
ubiquidade? Por outras palavras: um Espírito pode dividir-se, ou existir em
muitos pontos ao mesmo tempo?
A
própria formulação da pergunta já requer cuidados de avaliação para que se
possa apreender a intenção de Kardec quando da sua elaboração, pois verifica-se
duas perguntas distintas, e não apenas uma conforme possa aparentar. A primeira
é com relação à ubiquidade propriamente dita, isto é, se o espírito pode se
dividir; mas ele também pergunta se o espírito pode "existir" em mais
de um ponto, que também pode ser interpretado por “manifestar".
A
resposta à questão apresentada também necessita ser analisada em partes.
Na primeira parte a resposta é:
"Não pode haver divisão de um mesmo Espírito”. Nesta afirmativa fica claro
que o espírito não se divide. Todavia, a onipresença creditada a Deus também
não está implícito que haja algum tipo ou forma de divisão da divindade, caso
houvesse, seria o conceito de múltiplos deuses.
Na
segunda parte da resposta, os espíritos dizem: "mas, cada um é um centro
que irradia para diversos lados. Isso é que faz parecer estar um Espírito em
muitos lugares ao mesmo tempo. Vês o Sol? É um somente. No entanto, irradia em
todos os sentidos e leva muito longe os seus raios. Contudo, não se divide”.
A
interpretação comum sobre a forma de ação do espírito é baseada na premissa de
algum tipo de presença física, todavia, no mundo atual já existem vários meios
para o encarnado atuar em diversos locais sem que ele esteja fisicamente
presente, são os controles à distância, nos quais se utiliza ondas de rádio
diretamente ou através da internet. Temos, desta forma, que o encarnado poderá
agir em vários locais sem que seja necessário que esteja fisicamente presente.
Muitos sistemas de vigilância em empresas e residências são mantidos
remotamente, nos quais o interessado poderá acessar de qualquer lugar
utilizando, por exemplo, seu telefone celular.
Assim,
apesar de não se dividir, o espírito poderá agir em diversos pontos através da
sua ação mental e, além disso, supondo que para agir é necessário saber,
pode-se dizer que o espírito pode saber o que acontece nestes diferentes
pontos. Podemos inferir que, como todas as potencialidades do espírito, a
capacidade de ação e as limitações dependerão do grau evolutivo que tenha
alcançado. Para os mais elevados, nem o tempo impõe algum tipo de impedimento.
Podemos, então, concluir que: a) Deus é
onisciente e onipresente e; b) o espírito é "multipresente" e
"multiciente". As palavras "multipresente" e
"multiciente" não existem, mas acredito que facilita o entendimento
do conceito que se deseja apresentar. Optou-se por esta apresentação da
conclusão apesar de alguns dicionários considerarem que ubiquidade pode
significar, também, a presença ou existência em muitos lugares e não
necessariamente em todos.
Cláudio Conti é escritor e escreve para o Jornal Correio Espirita
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