Dom José Alberto Moura
Arcebispo Metropolitano de Montes Claros
Somos uma só pessoa, composta de algo material e
imaterial. Não se trata de separar o corpo da alma, como sendo composições separáveis. Nem a morte física os separa,
pois, nossa pessoa não morre e sim se transforma com a ação de Deus, que nos
faz deixar o corpo corruptível e assumir o corpo não corruptível, fazendo com
que nossas pessoas sejam preservadas inteiras com a ressurreição (Cf. 1 Coríntios 15,42-49).
Nosso desafio, nesse tempo da peregrinação terrena, é o
de vivermos como pessoas que sabem trilhar o caminho com o objetivo de realizar
o projeto de Deus. Assim toda a nossa
personalidade se articula com suas qualidades para atingir o objetivo da
conquista da felicidade plena. Esta só se consegue quando se caminha utilizando
os próprios talentos para tornar o convívio com o semelhante e a natureza
eficaz para se implantar a vida de sentido e realização para todos. Então vai
se viver conforme o espírito, como diz Paulo: “Se viverdes segundo a carne,
morrereis, mas se, pelo espírito, matardes o procedimento carnal, então
vivereis” (Romanos 8, 13). Para isso, é preciso contar com a ação divina, que
nos faz canalizar os impulsos instintivos da carne para um bem maior. Deste
modo não seremos arrastados pelos desejos do corpo e sim conjugá-lo-emos para a
realização do ideal de vida conforme o projeto divino. Jesus o fez de forma exemplar. Por isso, Ele se
torna nosso modelo de doação de si pelo bem da humanidade, não usufruindo de
vantagens na ordem física e material. Ele mostra que o corpo deve se submeter
aos ditames do ideal de se viver para se servir e amar, promovendo o bem de
todos, mesmo com o sacrifício de si.
Quem se sujeita à lei do amor, com a ação do Espírito
Santo, humaniza-se e ajuda a humanizar a
convivência com o próximo. A carne se sujeita ao espírito, regido por Deus.
O apóstolo Paulo fala enfaticamente: “Vivam segundo o
Espírito, e assim não farão mais o que os instintos egoístas desejam” (Gálatas
5,16). Ele especifica, em seguida, o que
realiza ações próprias do egoísmo, como: a fornicação, a libertinagem, a
idolatria, as rivalidades, a inveja, as orgias, a bebedeira e outros. Ao contrário,
quem vive segundo o Espírito pratica o amor, a paciência, a bondade, a fé, o
domínio de si... É próprio de quem vive como pessoa íntegra unir, na própria
personalidade, o que é inerente à natureza com seus instintos e o impulso para
assumir a própria espiritualidade e imaterialidade. O espiritual une o instinto
e o impulso para o transcendente, de modo a fazer com que a vida seja uma busca
constante do bem natural unido ao sobrenatural. Corpo e alma trabalham
intrinsecamente unidos de forma a não fazer o primeiro afundar-se no puro animal e sim torná-lo
amoldado ao que realiza a pessoa humana, marcada pelo amor divino.
Quem vive conforme o projeto de Deus assume a fé
sobrenatural que o leva a confiar plenamente nele e sabe assumir também os
limites e sacrifícios da vida com inteira confiança no que Jesus ensina: “Vinde
a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e
eu vos darei descanso” (Mateus 11,28). De fato, quem se deixa conduzir pelo
Espírito de Deus nada teme, sabendo que Ele o ajuda a vencer na vida e
conquistar a própria realização, com o resultado de ter feito o melhor de si e andar pelo caminho que conduz à maior
ideal de vida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Este blog só aceita comentários ou críticas que não ofendam a dignidade das pessoas.