Sebastião Nery
RIO – Nestes tempos de mediocridade triunfante, carência
de vocações públicas, foi uma festa na casa do advogado Carlos Sodré, em Salvador,
o reencontro com velhos amigos como Waldir Pires,Virgildásio Sena, Roberto
Santos, Joacy Goes, Hélio Duque, João Carlos Teixeira Gomes (o poeta Joca),
outros, relembrando uma parte da história política brasileira.
Por exemplo, aos 91 anos, Waldir lúcido e ativo na defesa
da democracia, ensinava: -“A política é a única forma de produzir mudanças na
sociedade. O governo democrático não é o governo da vontade pessoal do
governante. Não há falta de inteligência nos dias atuais. Há falta de caráter.
A civilização não pode ser a corrupção e o caos, a ansiedade e a opressão. A
dignidade humana, os direitos existenciais, os valores da liberdade, devem ser
o balizamento na sociedade democrática. É o ser humano a medida e o fim da
sociedade.”
Ao longo de uma vida de vitórias e derrotas, Waldir nunca
abdicou de ser um homem público. Diferentemente de tantos, nunca usou o poder
para servir-se, mas de ser um servidor na atividade pública. No legislativo,
como deputado federal, foi um formulador de leis modernas. No executivo, em
diferentes administrações, imprimiu seriedade e competência no enfrentamento
dos desafios. Antes de abril de 1964, no deposto governo de João Goulart, era
Consultor Geral da República, integrando a primeira lista dos cassados pelo
novo regime. Exilado na França, tornou-se professor da Faculdade de Direito de
Dijon e do Instituto de Altos Estudos da América Latina na Universidade de
Paris, entre 1966 e 1970.
Em 1970, com a anistia, retornou ao Brasil, filiando-se
ao MDB. Pela Bahia, em 1982, disputou o Senado e foi derrotado. Com a
redemocratização e a eleição do seu velho amigo Tancredo Neves, foi Ministro da
Previdência. Uma gestão exitosa.
Em 1986, candidato ao governo da Bahia, teve histórica
vitória. O deputado Hélio Duque lembra-se bem. Em janeiro de 1989, durante
almoço no Palácio de Ondina, residência oficial do governador, o assunto era a
eleição direta para a presidência da República. A maioria dos presentes
defendia a candidatura do governador Waldir Pires, para a disputa presidencial
pelo PMDB. Hélio Duque argumentou contra, apontando duas principais razões:
primeiro, o candidato do partido deveria ser o presidente do partido Ulysses
Guimarães; segundo, para ser candidato Waldir teria de renunciar ao governo da
Bahia. Meses depois, em Brasília, na convenção nacional, Waldir disputaria com
Ulysses a indicação e foi derrotado.
Em nome da unidade partidária, convenceram o governador a
ser o vice de Ulysses, com a falsa argumentação de que em curto espaço de
tempo, por falta de carisma eleitoral, Ulysses renunciaria e Waldir assumiria a
disputa presidencial. Ao deixar o governo da Bahia, assumiu o vice-governador
Nilo Coelho, que reformulou radicalmente a administração.
Elegeu-se em 1990 deputado federal pelo PDT, com a maior
votação registrada na história política da Bahia.
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